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12 de junho de 2016 / Angelo Miloch

Menino bom, contexto ruim

Um homem de 34 anos matou a mulher, de 22 anos, a pauladas, no Dia dos Namorados, em 2015, e foi preso. O caso é antigo, mas remete a uma reflexão atual. Explico.

Enquanto apurava o caso, conheci o filho do acusado, um adolescente de 12 anos. Gente boa, me atendeu com educação. O garoto estava na cena do crime, então contou alguns detalhes.

Antes de falar do menino, contextualizo o leitor. O casal vivia há cerca de seis meses num sobrado humilde do Jardim Amanda I, um dos bairros de Hortolândia, no interior de São Paulo, com maior índice de criminalidade.

O homem, servente de pedreiro desempregado. A mulher, grávida de três meses segundo vizinhos, trabalhava numa lojinha da vila. Os dois usavam drogas.

Além do casal, os avós paternos do garoto e uma irmã (são filhos do primeiro casamento do acusado) residem no imóvel – é sobrado simples, de periferia, nada de alto padrão.

Na manhã do dia 12, uma vizinha chamada Baiana acordou com os gritos da vítima pedindo que o companheiro parasse as agressões.

Alegando ciúmes, o homem, após quatro pauladas na cabeça da mulher, deixou de agredi-la, a abraçou e aguardou a chegada da polícia. Disse estar arrependido e que pagaria pelo crime.

O primeiro a socorrer a vítima foi o filho do acusado. O garoto de 12 anos viu a madrasta tendo convulsões e fez massagens cardíacas na intenção de reanimá-la. Socorrida, a vítima morreu no início da tarde.

Quando bati palmas na casa da família, fui atendido pelo filho do acusado que, do outro lado da rua, empinando pipa, veio me atender. Ele se mantinha sereno.

Mesmo após testemunhar o pai matar a mulher, o garoto seguiu com a rotina e foi soltar pipa na rua. Ele me contou o que houve, sem receio, raras vezes demonstrando alguma lástima. “Pai, precisava ter feito isso?”, disse, relatando ter repreendido ao pai assassino.

Um menino bom num contexto ruim, é como defino aquele pré-adolescente. Tenho me perguntado que será que o futuro tem pra ele.

Com a mãe ausente, o pai preso, a madrasta morta e os avós ocupados, no Jardim amanda, e com a frieza de quem viu uma mulher ser morta a pauladas, o que esperar:

(1) ele vai superar o episódio com psicológico de quem não se abala e vencerá na vida ou; (2) será recrutado pelo crime e acabará “puxando” carros, roubando casas ou traficando drogas?

Eu, particularmente, vou acreditar na opção (1), mas receio que vai acertar a questão quem apostar na (2).

Em tempo, se o Brasil reduzir, de fato, a maioridade penal, a sociedade vitimará ainda mais o garoto , que será encarcerado num presídio semelhante ao inferno porque, afinal, a Justiça precisa ser feita.

*o texto original escrito por mim foi publicado no Jornal O Liberal.

Mais em http://www.facebook.com/angelomiloch

@AngeloMiloch

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