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5 de junho de 2016 / Angelo Miloch

Números sobre a violência contra as mulheres

Meses atrás, publiquei o tão comentado vídeo em que o apresentador Ratinho chuta sua assistente de palco, Milene Pavorô. O assunto esquento, ferveu e esfriou, mas, o que restou daquilo?

Compartilhei o vídeo na quinta-feira, dia 21, feriado de Tiradentes, no Facebook. Na sexta, ele se espalhou e alcançou um milhão de visualizações para, no sábado, viralizar e passar de dois milhões e meio de views. A rede social excluiu a publicação no domingo.

Dentre os mais de 10 mil comentários, dois chamaram atenção. No primeiro, um homem disse que iria argumentar com uma mulher, mas, que após “ler o nome e ver a foto” dela, desistiu. Pré julgamento, para não dizer racismo. No outro, fui chamado de “esquerdopata”. Relacionaram à esquerda um tema que deve estar presente em todas as ideologias políticas.

Quero voltar ao tema inicial do alarde: a violência contra as mulheres. Não tocaram mais no assunto. Ninguém. Basta ver: após o período em que a polêmica ficou no ar – do dia 21 ao dia 25, no máximo, presumo -, quantas vezes este tema tornou à pauta das páginas, blogs e portais da internet? Que eu lembre, nenhuma.

Eu gostaria de saber, agora, dos meus haters, que me classificaram como sensacionalista, oportunista, irresponsável: o que mudou pra vocês? O que adiantou criticar um discurso que denuncia a violência contra as mulheres, combate a desigualdade de gênero e promove respeito ao sexo feminino, que de frágil já provou não ter nada?

Se você não conseguiu sair da caverna e resumiu o caso Ratinho x Pavarô ao apresentador do SBT Carlos Massa e à Milene Pavorô, leia com muita atenção esta estatística: 4.762 mulheres foram mortas no Brasil em 2013 – 13 vítimas por dia. São informações do Mapa da Violência 2015, as mais recentes (consulte: http://goo.gl/6NrRlV).

Pergunto, ainda, àqueles que consideraram a violência gratuita veiculada em TV pública aberta no horário nobre “uma brincadeira infeliz”: você, homem ou mulher, tem medo de ser estuprado (a)? Pois, saiba que 90,2% das mulheres de 16 a 24 anos afirmaram ter medo de sofrer violência sexual, segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (o mais recente), lançado em novembro de 2015 (consulte: http://goo.gl/x3cQwq).

Em tempo, o Brasil foi escolhido como país-piloto para adaptação do protocolo latino-americano para investigação das mortes violentas de mulheres por razões de gênero (femicídio/feminicídio). O primeiro critério de seleção para a escolha foi a prevalência (!) e relevância (!) das mortes violentas de mulheres por razões de gênero no país (consulte: http://goo.gl/Tqt8uo).

A escolha foi iniciativa da ONU Mulheres no Brasil e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos – esse que o governo interino Temer extinguiu -, e teve apoio do governo australiano.

Sendo assim, “direitopata”, não limite um debate amplo à polêmica de uma única cena. Não resuma suas conclusões a um “gente, está tudo bem” proferido, sabe-se lá Deus a qual custo, por uma mulher vitimada. Saia da caverna e não propague o diálogo do “pare com esse vitimismo”. Se sua vida vai bem, as de muitas mulheres não vão, e você sabe a que me refiro, agressor.

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