Pular para o conteúdo
9 de fevereiro de 2016 / Angelo Miloch

Não se viam

O dia clareou pra os dois. Ela, pulou cedo. Ele, depois.

Pão de queijo, café e leite. Um pedaço de mamão. A moça correu. Pegou o busão.

O moço tinha café em casa. Pão, não. Nem mamão. Foi à luta. Pegou o busão.

Não se conheciam. Se viram no coletivo. Ela, de livro. Ele, fone no ouvido.

Sentados próximos, não se viam. Por edução, um singelo bom dia.

Quietos, sentados, não sabiam: estavam ligados. Desembarcaram.

Foi dia chato pra moça. No escritório, o estágio era obrigação. O livro, não.

O moço, nem viu o dia. Office-boy corria. A música, fortalecia a vida.

No livro, histórias do país onde nasceu o cantor que ele ouvia, mas não se viam.

De volta ao lar, ela descansou, tomou café e leu mais. Dormiu.

Com o dinheiro do trampo, ele comprou mamão. Comeu. Sorriu.

Simples, chato e triste assim: o mundo, não parou pra eles. Seguiu. E não se viam.

Miloch

Deixe um comentário