Não se viam
O dia clareou pra os dois. Ela, pulou cedo. Ele, depois.
Pão de queijo, café e leite. Um pedaço de mamão. A moça correu. Pegou o busão.
O moço tinha café em casa. Pão, não. Nem mamão. Foi à luta. Pegou o busão.
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Não se conheciam. Se viram no coletivo. Ela, de livro. Ele, fone no ouvido.
Sentados próximos, não se viam. Por edução, um singelo bom dia.
Quietos, sentados, não sabiam: estavam ligados. Desembarcaram.
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Foi dia chato pra moça. No escritório, o estágio era obrigação. O livro, não.
O moço, nem viu o dia. Office-boy corria. A música, fortalecia a vida.
No livro, histórias do país onde nasceu o cantor que ele ouvia, mas não se viam.
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De volta ao lar, ela descansou, tomou café e leu mais. Dormiu.
Com o dinheiro do trampo, ele comprou mamão. Comeu. Sorriu.
Simples, chato e triste assim: o mundo, não parou pra eles. Seguiu. E não se viam.
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Miloch
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