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3 de fevereiro de 2016 / Angelo Miloch

Não entrelaçou

Encontrei, hoje, nas minhas bagunças, um retrato tirado em 3 de fevereiro de 2008, exatamente oito anos atrás. Com sua composição, de tom e luz, ou no tom da luz, dizia algo sobre entrelaçar. Destinos entrelaçados. Destinos que se entrelaçariam.

A primeira coisa que se faz quando se encontra fotos antigas, é olhar pra si, na foto. Você se olha, sorri, e pensa: mudei muito. Dependendo das circunstâncias, conclui: mudei pouco.

Mas, como olhar pra si cansa, tu repara quem mais compõe a paisagem. Você sorri, e pensa: fulano, mudou muito. Conforme for, conclui: ciclano, mudou pouco.

Seus olhos percorrem o restante da foto, e é então que a imagem começa a ter sentido. Você lembra o momento, o contexto, a hora. Lembra o ocorrido antes da foto e o que houve após o clique.

Depois de um momento pensando, de voltar oito anos atrás, a imagem, que já era clara, graças a boa composição de luz, fica mais direta, e reforça: destinos que se entrelaçariam.

Destino… Que falar do destino? Destino que separa as pessoas das fotos pra, em seguida, sugerir que se entrelacem de novo? Destino que toma rumo maluco ignorando pra sempre o destino registrado na foto, que já era destino.

Que desagradável você, destino! Não fosse por ti, fotos não seriam tiradas, guardadas e encontradas, tanto tempo depois. E que frágil você, fotografia. Registra um momento para permitir ao destino alterá-lo depois.

Dia 3 de fevereiro, o dia em que os destinos se entrelaçaram, por meio da foto, mas não pela foto. Santa coincidência ou ironia do destino ver essa imagem? Destino, que diacho você aprontou? Pois, se deveria entrelaçar, não entrelaçou.

25 de janeiro de 2016 / Angelo Miloch

Poema: Tiro certo (Angelo Miloch)

Bom seria se a vida obedecesse nossas ordens. Se o rumo findasse em nossos planos. Se o objetivo chegasse com nossos caminhos. Bom seria.

Quem planeja, o faz pretendendo que algo saia certo. Quando não sai, se questiona em que ponto faltou planejamento. Talvez nem faltou.

Ao mirarmos, a fé que se tem é a do tiro certo. O problema é que, entre a mira e o alvo, qualquer milímetro é metro. É então que se erra.

Agora, se há desobediência da vida, falha no planejamento e imprecisão na certeza, o que resta? É tão difícil a vida obedecer, o plano dar certo e tiro acertar? É?

Já que a vida desobediente segue, o plano que falha cobra e o tiro que erra volta, te derruba, resta aceitar. Aceitar no sentido de encarar, não ceder.

Creio eu: no fim das contas, há resultado positivo. Impossível que não. Impossível. ‪#‎JahBless‬

21 de janeiro de 2016 / Angelo Miloch

Poesia: Carrinho de Papelão (Angelo Miloch)

20 de janeiro de 2016 / Angelo Miloch

Poema: Semana Atrasada (Angelo Miloch)

Hoje é quarta, isso eu acho.

Tá na carta, que despacho.

É da terça que escrevo.

Dos anseios e desejos.

Na segunda, uma ideia.

É profunda, falo dela.

O domingo: exaustão.

Dia chato, de Faustão.

Sabadão, só alegria.

Minha ideia, não se cria.

Foi a sexta, que nem vi.

Tchau semana. Sobrevivi!

Era quinta, li na carta.

Tô atrasado, hoje é quarta.

14 de janeiro de 2016 / Angelo Miloch

O casamento gay diante de um olhar antiquado

Precisei gastar a manhã do sábado (22/8) num cartório aqui de Americana resolvendo pepinos. Tive a oportunidade de presenciar um casamento gay, no civil, como se diz. Vou descrever a cena, rapinho, para contextualizar o leitor:

Dois homens aparentando não mais que 25 anos. Os dois de tênis casual, jeans e camisa, por cima, um colete social. O típico esporte fino. Cada um com dois ou três amigos, que os parabenizavam com abraços e apertos de mãos. Todos felizes.

Minha reação: feliz por eles, pelo momento, pelo matrimônio e pela alegria alheia. Sabe-se lá que barra esse casal enfrentou para se unir e ser reconhecido como casal. Nem me ocorreu o fato de o par ser formado por dois homens. Enfim.

Comigo, o funcionário de um escritório de advocacia – tínhamos um pepino a resolver. A reação dele: “ah, sou contra essas coisas. Tipo, não tenho nada contra (oi?), mas, imagina minha filha de quatro anos vendo dois homens ou duas mulheres se beijando”.

Fiquei quieto e continuei observando o casal. O funcionário emendou (talvez incomodado por eu não tê-lo dado ouvidos): “pensando bem, essas pessoas tem de ser corajosas pra se assumir, assim, pra todos. Imagine a família”.

Como assim, “essas pessoas”? Argumentei, calmo: “essas pessoas”, são como você ou eu. A família, ao que parece, apoia a união. Sobre a intimidade, acredito que não ficarão se expondo na frente de crianças, como, aliás, nenhum casal sensato faz.

“Posso até estar sendo antiquado, mas não sei onde esse mundo vai parar”, indagou o tal funcionário. Não dei mais bola. Voltamos a tratar do nosso pepino após um momento de silêncio e vergonha alheia. Preconceito não é sinônimo para antiquado. Paciência.

*Este texto é de agosto de 2015.

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8 de janeiro de 2016 / Angelo Miloch

Poema: Paz do Menino (Angelo Miloch)

O menino parou, olhou pra si, refletiu e decidiu ir.
O caminho a sua frente, montanhoso, esburacado e escorregadio, chegava ao abismo. Não quis.
Virou. Atrás, caminho de desgostos, decepções e desapontamentos que dava em sofrimento.
Tentou a esquerda. Havia guerra e violência. Policiais e ladrões se matando. Ambos matando inocentes. Trajeto de dor.
Mirou a direita. Encontrou pobreza e miséria. Crianças sem pais, pais sem emprego. Trecho de famílias destruídas.
Olhou pra cima. Viu o céu, azul e calmo. Ante ao que tinha, deixou a terra e foi morar com Deus. Encontrou paz.

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4 de janeiro de 2016 / Angelo Miloch

Poesia: Lembrar de Esquecer (Angelo Miloch)

Lembro cada pessoa a qual estimei além da conta.

E com frequência esse passado retorna, me afronta.

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Como houvesse razão, motivo ou desejo em lembrar.

Se o passado vivido, querido e sofrido, não há de voltar.

Não me tenha por mal se digo do fim do que tu desejas.

É que dúvida é certa tal qual incertezas de suas certezas.

Fato é que pessoa passa e lembrança fica. É crença.

Se foi, esqueça. Mas se lembrar, reviva. Compensa.

Viva as pessoas. Viva as lembranças. Viva a vida. Viva!

Poesia: Lembrar de Esquecer (Angelo Miloch)

Poesia: Lembrar de Esquecer (Angelo Miloch)

31 de dezembro de 2015 / Angelo Miloch

Poema: Dor de Cabeça (Angelo Miloch)

Mas, que dor de cabeça. Daquelas fortes. Quem bateu tinha uma intenção: derrubar. E derrubou, de fato.

Que ano doido. A gravidade não perdoou nada: a economia, o mercado, o emprego, políticos, a fé; caíram todos.

O que falar no fim de ano? Pra que falar no fim de ano? É data comum, nós que a projetamos. Nós que botamos fé no ano novo. Ele caga pra nós.

Ano maluco! E que bom que foi assim. Que graça teria um ano lúcido. Trezentos e sessenta e cinco dias lúcidos. Prefiro a maluquice.

Já se foram quinhentas e vinte e sete letras, e ainda não disse nada ao ano velho. Também não dei boas vindas ao novo. Nem vou.

Paro de escrever aqui. Este ano, não escrevo mais. Hoje é dia de festa, não é dia de escrever. O último dia do ano é dia de beber, de bebedeira.

Vou beber um pouco. Talvez, ficar bêbado, ainda que não queira. Vou comer um pouco. Talvez, passar mal.

Feliz Ano Novo a você! Eu, com o tombo, a bebida e a comida, devo acordar em 2016 pensando: mas, que dor de cabeça!